Syn Stories 3

Quando os primeiros raios de sol começaram a iluminar o Reino de IshtarIsabel já estava acordada. Ela estava olhando fixamente para a sua mãe, que dormia sobre o feno. Ela começou a se lembrar como era gostoso o toque da seda que envolvia sua cama. Imediatamente, isso à fez lembrar de seu pai, Nergal, da sua melhor amiga, Cirene, e dos dias felizes quase constantes em Ti-Koan. Ela apenas não considerava um dia como 'feliz', quando alguém à contrariava. Bom, ela era uma princesa...

Mas, nada mais daquilo iria acontecer novamente. Finalmente Isabel percebeu que seu pai havia sido assassinado e o reino, completamente destruído. Isabel começou a chorar... desesperadamente.
 
Ereshkigal acordou assustada e rapidamente olhou ao redor, para ver se não havia nenhum perigo. Percebendo que não havia ninguém além dos cavalos daquele estábulo, ela abraçou a filha, tentando acalmar seu pequeno coração. Porém, poucos minutos depois, o dono do estábulo surge - ele havia ouvido o choro deIsabel do seu quarto, já que sua casa ficava ao lado do estábulo.

- Ei, o que vocês estão fazendo aqui...? - Disse o velho...

- Desculpe, chegamos tarde ontem de uma longa viagem e não tivemos tempo de procurar um lugar para dormir... Ereshkigal tentou explicar, enquanto enxugava as lágrimas de Isabel.

- Caiam fora! - O velho gritou sem dar importância ao problema alheio...

- Já... já estamos indo... Mê dê apenas um minuto... Ereshkigal argumentou para ganhar tempo para consolar sua filha.

- Caiam fora agora! Onde já se viu...?! Se eu for gentil com vocês, amanhã meu estábulo estará cheio de mendigos!!! - O velho resmungou.

As duas foram escurraçadas daquele estábulo, mas Ereshkigal não se deixou abater. Agora era a hora de colocar seu simples plano em prática: Ela iria bater de porta em porta, oferecendo seus serviços como doméstica em troca de um quartinho e comida, para ela e sua filha. Ora, ela tinha diversos fatores ao seu favor! Primeiro, ela sabia que as domésticas de Ishtar cobravam caro por serviços domésticos, e as únicas coisas que ela pediria em troca de seus trabalhos, seriam duas camas quentes e comida. Não precisava de luxo. Fora isso, Ereshkigal sabe se portar como uma nobre, não seria possível que ninguém aceitasse seus serviços... Principalmente em um reino tão grande como Ishtar!

Sim, ela estava confiante. O único fator contra era a fome que estava voltando. Ontem, um pedaço farto de pão sovado doado por um gentil viajante foi suficiente para as duas, mas e hoje...? Bom, não era hora de pensar nisso...Ela precisava seguir em frente. A pequena Isabel já não estava mais chorando, mas estava com um olhar vazio. Ereshkigal percebeu e a abraçou.

- Filha... Você ainda tem a mamãe. Eu vou lutar para te dar uma vida melhor... - uma pequena pausa para respirar, e continuou - Não vai ser igual à vida de princesa que você tinha, mas será uma vida sem privações...  

Eu quero ser forte... - disse Isabel, sem mudar sua expressão facial.

Isabel... Você é uma criança muito forte... Ereshkigal concluiu...

Não... você não entendeu... Eu quero ser forte... Quero crescer e derrotar bandidos! Isabel explicou, agora já olhando nos olhos da mãe.

Ereshkigal compreendeu a raiva que estava dentro do coraçãozinho de Isabel. Por hora ela concordou acenando a cabeça em silêncio, e se preparou para começar a procurar emprego. É claro que ela imaginou que seria loucura, pois as mulheres da família Anunnaki nasceram para serem esposas de nobres, não guerreiras. E seu plano à longo prazo era este: Se estabilizar um pouco com trabalho doméstico, dar estudo para Isabel para que ela pudesse conquistar alguém importante, e se casar. Mas seus pensamentos foram interrompidos...

Eu prometo que vou ser forte quando crescer... - disse Isabel, agora com um meio-sorriso de alguém totalmente decidido...

Agora Ereshkigal ficou realmente preocupada. Mas, isso era uma coisa para se resolver depois. O dia já havia amanhecido e a população já estava terminando de acordar. Dava para notar pelo movimento do cotidiano: O leiteiro entregando seu produto casa por casa e o padeiro fazendo o mesmo. Mãe e filha escolheram uma casa bonita daquela rua, que deveria precisar de uma boa doméstica. Se prepararam e bateram na porta. Uma senhora atende, e Ereshkigal começa seu pequeno discurso, ensaiado mentalmente:

- Bom dia minha senhora, perdoe o incômodo tão cedo, mas eu perdi meu marido à poucos dias e agora preciso de um trabalho como doméstica. Eu sei cozinhar, lavar, passar, limpar, costurar e também conheço etiqueta, sendo que já trabalhei para nobres de outros reinos, antes de me casar. A única coisa que peço em troca é um quartinho para mim e minha filha, e refeições diárias para nós duas. Nada de luxo, quero apenas que minha filha não passe necessidade e que possa frequentar a escola pública de Ishtar- E assim,Ereshkigal fez sua propaganda...

Oh minha querida, infelizmente, não podemos contratar mais uma doméstica... Sinto muito... - A senhora não aceitou a oferta, mas pelo menos foi gentil.

- Tudo bem, minha senhora, muito obrigado pela sua atenção! Tenha um ótimo dia... - Mesmo diante de uma resposta negativa, Ereshkigal sabia que era importante agradecer com um sorriso.

Quando Isabel prometeu que iria ficar forte, note que sua mãe ficou preocupada. A maioria das pessoas não levaria a promessa de uma criança tão à sério, mas gostaria de lembrar que no idioma nativo doPlaneta Syn, o nome de Isabel é na verdade, uma palavra que significa 'Aquela que cumpre suas promessas'. Algumas pessoas podem achar que é uma superstição boba, mas em Syn, o significado do nome da pessoa ecoa em seu subconsciente, cada vez que ela é chamada por alguém... PortantoEreshkigal acredita que Isabel dificilmente quebraria uma promessa...

E a busca por um emprego continuou, em um processo que se repetiu e repetiu durante toda aquela manhã. Alguns foram gentis como a senhora da primeira casa, mas a maioria agia com indiferença. Uns chegavam a ser realmente agressivos, mas até mesmo diante destes, Ereshkigal sempre agradecia com um sorriso. Mas, o tempo estava passando, e a hora do almoço já estava chegando. Elas precisavam continuar... Porém, ao bater na porta da casa seguinte, ninguém atendeu.

Não deve ter ninguém nesta casa, mãe... Talvez estejam viajando... Isabel concluiu precipitadamente...

Não filha... pelo estado da grama mal cortada, pelos cavalos bem alimentados no estábulo e pela ausência de pó na maçaneta, é provável que um senhor de idade more sozinho aqui. Ele deve gostar de seus animais, mas não liga muito pro resto. Talvez ele demore para atender à porta, caso tenha dificuldades para andar... - Disse Ereshkigal, deixando sua filha surpresa pela dedução.

E a porta se abriu...

 

Brilhante dedução, mas você errou na parte que eu teria dificuldades para andar... - Disse o Mago Negro Victor, que no dia anterior, havia salvado a vida das duas... - Na verdade eu não tinha intenção nenhuma de atender a porta. Até ouvir você analisando a minha casa...

- Senhor Victor! Perdoe-nos, não imaginávamos que o senhor morava aqui. O senhor já fez muito por nós ontem... Não devíamos tê-lo incomodado uma vez mais! - Disse Ereshkigal, enquanto Isabel estava olhando para o mago como alguém que estivesse revendo um velho amigo.

Mas já que incomodou, conclua o seu discurso...

Ereshkigal se apresentou e explicou que estava desde as primeiras horas da manhã procurando emprego de doméstica, para ter alguma chance de dar um futuro mais digno para sua filha. O problema é que Victor é umMago Negro, e isso já é por si só, motivo o suficiente para que as pessoas sempre tivessem - pelo menos - um pouco de medo dele. Em resumo: Ele se acostumou com a solidão. Então, sua personalidade já é naturalmente ríspida.

Entendo Ereshkigal, eu desejo uma boa sorte na sua busca... - Já começando o movimento para fechar a porta...

Me ensine a ser tão forte quanto o senhor! Isabel disse em voz alta, fazendo com que o Mago ficasse surpreso!

Mas que garotinha corajosa... Victor disse, misturando um ar de deboche com um quase meio-sorriso...

- Senhor Victor, permita-me cuidar da sua casa, das suas roupas e da sua comida. Se quiseres, poderá se entreter ensinado sua arte para Isabel, quando ela não estiver na escola... Ereshkigal disse, sem pensar muito, mas procurando uma solução.

- Ora, que insolência... Você acha que eu escolho qualquer um como meu aprendiz...? - Disse Victor, começando a ficar irritado...

- Eu quero derrotar o Egeon... - Disse Isabel, numa tentativa de convencer Victor.

Ah... E de onde você conhece o Egeon...? - Perguntou Victor.

Isabel... Ereshkigal não queria que Isabel contasse... 

Eles mataram meu pai e minha melhor amiga, quando atacaram minha cidade... - Por sorte, Isabel não mencionou que ela era princesa de Ti-Koan.

Hum... - Victor parou para pensar... - Certo... Ereshkigal você está contratada... Em troca de seus serviços domésticos, vocês irão morar aqui comigo. Tenho um quarto sobrando. Quanto à alimentação, ela também estará garantida por mim, mas haverá uma regra: Nos dias que Isabel não concluir o seu treinamento diário, vocês duas ficarão à pão e água... Agora, nos dias que se ela se esforçar, for bem e concluir seu treinamento, vocês duas poderão se sentar à mesa junto comigo e saborear uma boa refeição. 

Então o senhor vai ser o meu mestre...??? - Perguntou Isabel, eufórica...

- Sim, agora eu sou o seu Mestre, minha pequena Aprendiz! Mas guarde minhas palavras: Você vai se arrepender disto, garotinha! Meu treinamento é muito difícil... E começará amanhã... Por hora, entrem e almocem comigo... Hoje vocês duas estão de folga... Aproveitem, pois será a última folga que vocês terão em anos... - Concluiu o mago Victor.

Syn'Stories: O Mestre e a pequena Aprendiz [ 07 de Maio de 2008 ]
Criação & Desenvolvimento: Armando Schiavon Dias 'J.Maximus'
Controle de Qualidade: Luciane Orlando 'Gwen'
Desenhos: Georges Duarte
Cores: Geraldo Filho
Não perca o próximo capítulo de Syn'Stories: O Treinamento - Sigel