O silêncio imperava no quarto da casa de Mário. Lá estava a figura triste dos dois grandes amigos que desde a 5ª série compunham uma amizade de estabilidade invejável. O longo suspiro vindo dos lábios de Márioquebra aquele silêncio doloroso que havia entre os dois.
- Então Mário... Fica assim não cara. Ela vai voltar confie em mim. Tudo vai dar certo. A polícia já está avisada e tudo vai correr bem. Vai por mim, mano.
- Erick... - novamente sua boca emana um suspiro agora um pouco mais curto que o anterior - Sabe, espero que você esteja certo. Apesar de nossas diferenças eu amo minha irmã e nunca desejaria nenhum mal a ela.
Aquelas palavras inundaram a mente de Erick. Mário queria acima de tudo o bem de sua irmã, como será que ele ficaria se soubesse de sua vontade de conseguir conquistar Camilla? Ainda mais conhecendo o aspecto de mulherengo dele tão bem assim.
- Não se preocupa, cara. Você vai ver, daqui uns dias ela vai ta aqui pegando novamente no teu pé por causa da Suzane e te pedindo pra ajudar ela com as tarefas de casa.
- Sabe o que mais me preocupa, Erick? É que hoje cedo eu encontrei uma carteira jogada no chão do quarto de Camilla.
- Mas isso é bom. Agora poderão pegar os cara mais rápido...
- Não, Não é isso. Nela tinha um cartão com o endereço e escrito “galpão abandonado” embaixo dele. Até parece que eles querem que a gente encontre o galpão.
- Larga de nóia mano. Claro que não, com certeza devem ser uns manés e deixaram essa carteira cair. Ah... e já avisou a Suzane?
- Não Não. Tá maluco? Isso só ia deixar ela preocupada e você sabe como a Suzane é, né? - uma pequena pausa e novamente ele retoma a fala - Sabe... Você está sendo um amigo e tanto sabia?
Erick apenas sorri. Os dois se abraçam como grandes amigos fazem em horas de dor como aquela. O quarto novamente mergulha em silêncio.
Aquele dia foi um tanto cheio na casa dos Gôuveias. Erick já tinha deixado a residência que fora invadida por Investigadores, Militares, Amigos e Curiosos, o que só aumentava a dor da família. As imagens dos momentos que tivera com a irmã iam gradativamente se fazendo mais presentes, bons e maus momentos que fizeram daqueles dois algo mais além de irmãos, fizeram dos dois grandes companheiros. Aquelas imagens cativaram um sentimento incômodo, um sentimento que julgava que talvez nunca mais pudesse verCamilla, sentimento que não deixariam aquele garoto esperando por uma resposta positiva vinda das autoridades que já estavam no caso.
- Erick, Erick... Preciso que venha aqui agora. Tem uma coisa que quero falar para você.
Tu Tu Tu... O ruído de ligação terminada misturava com os ruídos dos suspiros sucessivos emanados porMário. Ele tomara uma decisão, talvez não tão sábia, mas amenizaria o sofrimento que estava passando. Agora era só esperar que Erick chegasse à casa e ele iria fazer algo pela irmã.
Cerca de 20 minutos depois a campainha anuncia a chegada de Erick. O garoto entra e os dois amigos se acomodam na sala de estar. Assim Mário começa a relatar o que tinha em mente.
A velocidade de pronúncia das palavras mostrava que Mário estava nervoso e as coisas que ele dizia iam impressionando Erick a cada segundo que se passava. Não restavam dúvidas que aquilo que Mário havia proposto era muito perigoso.
- Você tá maluco cara? - Apenas pela voz dava para se detectar o nervosismo que Erick estava após ouvir a proposta de Mário. - Você tá pensando em se suicidar, né? Só pode. A gente não pode ir lá e resgatar aCamilla não, cara, você só pode estar brincando..
- Não Não estou brincando... É o seguinte. Eu lhe chamei e te contei que eu quero resgatar a Camilla pelo seguinte, eu quero que você me ajude. Agora se você acha que não está apto a fazer isto por qualquer que for o motivo tudo bem, eu faço isso sozinho.
- Definitivamente não, cara. Eu não vou atrás de bandido e arriscar minha vida não. A polícia já está fazendo isso... Melhor, estaria se você tivesse entregado esse maldito papel com o endereço para o investigador.
- Olha aqui. Eu não acabei de explicar que esse papel é a única garantia de que não é nenhuma armadilha? Escuta bem. A carteira onde estava o papel estava aberta e virada de cabeça para baixo quando encontrei correto? Mas tem uma coisa errada aí. A carteira tem um velcro que tranca a carteira assim que ela é fechada, ou seja, ela foi colocada naquele sentido. E outra coisa, já se passaram mais de 12 horas e nada de pedido de resgate. Isso é uma armadilha para alguém da polícia. Preste atenção. Fabrício mora bem aqui na rua de casa né? E ele é um oficial da justiça. Segundo boatos ele teve uma briga com uns caras aí à umas duas semanas atrás, então está mais que claro que eles querem fazer algo com o Fabrício, já que é ele o policial que cuida dessa parte de seqüestro.
Uma pausa longa é dada no diálogo
- E daí, Mario? Não importa o que querem ou não fazer com esse tal de Fabrício. Você vai se arriscar por um cara que não é nem seu parente? Presta atenção, cara. Você não é Super Herói não.
Mário pega um livro de capa preta e com letras douradas em cima da mesinha de centro frente à ele. Aquele era considerado um manual de instruções para ele, já que sua formação evangélica era muito forte. Aquele livro era uma Bíblia.
- Se você puder fazer o bem e não fizer isso será um pecado. – ele olhava para a Bíblia enquanto pronunciava tais palavras.
Erick suspira.
- Tá Bom... Eu sei que você é inteligente o bastante para não fazer isso. Eu ao vou ficar aqui ouvindo você dizer loucuras não. Tô indo Mário.
Erick se levanta e se dirige para a saída. Apesar das palavras ditas agora à pouco ele sabia que Mário não tiraria aquela idéia maluca da cabeça e o pior, nunca se perdoaria se acontecesse algo com seu melhor amigo.
- Mário. Não posso fazer você desistir da idéia. Mas eu também não posso deixá-lo fazer isso sozinho. Eu vou com você.
As horas após aquele diálogo passaram em considerável vagareza para aqueles dois jovens amigos. Erickhavia se dirigido novamente para sua casa enquanto pensava na aventura que teria logo mais à noite. Ele se arrependeu de ter dito aquilo, mas já estava feito. O êxtase tomava conta do corpo dele só de imaginar o que poderia acontecer naquela louca aventura, mesmo considerando Mário um gênio, ele tinha um pressentimento de que aquilo não iria dar certo.
- Arhh... O que está acontecendo? O que é isso passando em minha mente?
Erick já estava em casa. Jogado no sofá se debatendo de uma dor que iniciara logo depois que ele começou a pensar acerca da aventura de resgate que havia marcado para logo mais à noite. Ele não sabia o que estava acontecendo com sua mente que começara a transmitir imagens de uma vida que ele não viveu num mundo que ele nem mesmo conhecia. O que seria aquela sensação de perca de controle que ele estava sentindo, parecia que seu corpo estava sendo transferido para outro dono, ele não mais coordenava seus movimentos.